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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Morte súbita de castanheiros

Proprietários de soutos e técnicos de Associações Florestais andam sobressaltados com a morte repentina de castanheiros.

O problema ganhou relevo há pouco tempo, mais notoriamente em Maio de 2010. Assim, num abrir e fechar de olhos, se dissipam cuidados, muito trabalho e dinheiro investidos ao longo dos anos. 


Na tentativa de explicar qual a causa da morte repentina de castanheiros tenho visitado diversos soutos nos concelhos de Bragança, Vinhais e Valpaços (DOP da Terra Fria e da Padrela). Isto, tanto a pedido de agricultores e de técnicos de Associações Florestais, como por iniciativa própria.


Nos soutos que visitei, observei não só castanheiros mortos, mas também castanheiros muito debilitados, com idades que oscilavam entre os 2 e 20 anos. Por via da inquirição de agricultores e de técnicos da Direcção Regional de Agricultura e Pescas Norte (DRAPN), contabilizei perdas que variavam de poucas árvores até valores superiores a 25% do souto. Num dado caso, em Penedono, terão morrido 80% dos castanheiros, isto segundo a estimativa feita por técnica da DRAPN. 


Alguns agricultores não acharam explicação para a morte repentina das árvores, outros atribuíram-na à doença da tinta e, outros ainda, associaram-na ao frio intenso do início de Maio. 


Ora, esta última explicação é aceitável, dada a ocorrência de geada a 5 de Maio de 2010. Através dos registos recolhidos nas estações meteorológicas automáticas da DRAPN, poderá concluir-se que acima dos 400 metros de altitude terão ocorrido temperaturas negativas em diversas áreas de Trás-os-Montes, nomeadamente em locais onde foram recentemente instalados diversos soutos.


Com base nos testemunhos de agricultores e de técnicos da DRAPN e, muito em especial, nas observações e estudos que realizei, concluí que a morte de castanheiros que surgiu durante o mês de Maio de 2010 terá sido, efectivamente, o que designo por morte súbita de castanheiros, dado ocorrer num prazo relativamente curto. A morte das árvores está associada à geada tardia que ocorreu em Maio e as condições que propiciaram os danos causados nos castanheiros poderão atribuir-se a uma falta de boro.
Vejamos seguidamente uma série de elementos que sustentam tal conclusão.

Que sintomas e sinais observei?

Observei sintomas e sinais diversos, a saber:
- castanheiros novos (menos de 8 anos), completamente mortos, ou mortos com rebentação na base (Fig.1); castanheiros com o ápice morto e/ou alguns gomos e ramos das extremidades também mortos; a casca do tronco de alguns ramos tinha o aspecto de ‘pele de sapo’ (hipertrofia das lenticelas); e outros, ainda apresentavam lesões no tronco (Fig.2). Em algumas árvores observaram-se orifícios na casca (Fig.3).
- castanheiros com 8-20 anos, mortos ou muito debilitados, a maioria deles com rebentação nova na base do tronco. 
As árvores debilitadas (8-20 anos) apresentavam as folhas com dimensões reduzidas e amarelecidas. A casca do tronco, ou de alguns ramos, tinha o aspecto de “pele de sapo” (Fig.4). Alguns destes castanheiros apresentavam lesões no tronco. Desde pequenas lesões (com poucos centímetros de largura e comprimento) até às lesões maiores, localizadas tronco acima. Em certos casos, as lesões cintavam completamente o tronco. Também se observaram orifícios causados por escolitídeos (insecto perfurador, que faz galerias na casca) (Fig.3). A casca, depois de aberta, apresentava-se mole e com cheiro intenso a fenóis.

A que se deveu a morte súbita dos castanheiros?

A morte súbita dos castanheiros está certamente associada à geada de 5 de Maio de 2010 e à carência de boro. Aliás, os sintomas descritos anteriormente são típicos da carência de boro em grande número de espécies arbóreas. 
É dado adquirido que grande parte dos solos de Trás-os-Montes é pobre em boro. Mas, note-se, não foram só a geada e a pobreza em boro dos solos os factores responsáveis pela perda das árvores. A fertilização desajustada do castanheiro é razão adicional de grande peso. Por exemplo, excesso de azoto (N). Uma aplicação abonada de macronutrientes, em especial de azoto, é condição bastante para despoletar a carência de boro. A falta de boro torna os tecidos vegetais novos e tenros mais susceptíveis à geada, particularmente quando há azoto demais. 
Sempre que foi possível fazer a análise das terras ou das folhas, verifiquei que havia uma carência de boro. Além disto, pude verificar que quando se aplicou o boro ao solo no mês de Maio-Junho, ou quando se fez uma adubação foliar com boro em Junho-Julho nos soutos afectados, se obteve resposta muito positiva dos castanheiros.

A morte súbita só ocorreu em 2010?

Seguramente, não. Tenho vindo a observar estes sintomas desde 2006. Também, em Maio de 2007 um dirigente da Associação Florestal AFLODOUNORTE me alertara para um caso semelhante em Jou (Murça). Eu mesma confirmei que se tratava de carência de boro. Depois, em 2008 e 2009, em soutos indicados por técnicos da DRAPN e da Associação Florestal ARBOREA, voltei a ver sintomas semelhantes (aos descritos acima), que foram corrigidos através da aplicação de boro. Provavelmente, a morte súbita de castanheiros bastante novos sempre ocorreu. Alguns agricultores referem-se a ela dizendo que a árvore secou ou morreu, por vezes atribuindo-a à doença da tinta, a qual, aliás, tem costas muito largas.

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