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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Agricultores desistem da azeitona em Valpaços

São cada vez mais os proprietários de olivais que deixam a azeitona nas árvores. O despovoamento das aldeias está provocar também consequências nas campanhas de apanha do olival tradicional, mais exigente em mão-de-obra.
Nem sempre este tipo de olival permite a entrada de tractores agrícolas, e as oliveiras antigas são mais frágeis e aguentam menos o impacto da vara mecânica. 


“Não temos muita alternativa, porque já não temos idade, nem saúde, para apanhar a azeitona. Por cá praticamente não se arranja mão-de-obra”, lamentou António Isidoro, reformado. Ainda não é este ano que este ex-agricultor vai deixar a sua azeitona no campo, mas só não o faz porque conta com a ajuda dos filhos, que habitualmente o auxiliam nos trabalhos do campo. “Mas tenho aqui um vizinho que já deixou a azeitona no olival no ano passado, e este ano deve fazer o mesmo”, contou António Isidoro. 


O custo da mão-de-obra também é pouco aliciante para uma fatia considerável dos pequenos proprietários rurais, muitos dos quais vivem das magras reformas, pouco mais de 200 euros/mensais. Este ano, em Cabanelas quem quiser contratar um homem para manobrar a máquina de varejar mecânica terá de despender 55 euros, por uma jornada de oito horas diárias. “Como é que a gente pode pagar isto! Os mais velhos dificilmente podem pagar essa quantia. É muito difícil aguentar o olival”, explicou Cremilde Amélia Patatas. 

Só se começa a trabalhar
depois da Cooperativa
de Valpaços abrir as portas

O baixo preço a que se vende a azeitona, também contribuiu para o desânimo dos produtores. No ano passado, a Cooperativa de Valpaços pagou a 25 cêntimos o quilograma. Este ano o preço ainda não está estipulado, mas os agricultores temem que baixe ainda mais, até aos 20 cêntimos. “Com preços tão baixos não conseguimos apurar para pagar a mão-de-obra. É impossível, ainda ficávamos com prejuízo”, acrescentou Cremilde Amélia Patatas. 


São também muitos os que preferem apanhar apenas azeitona suficiente para produzir azeite para consumo próprio, a restante é deixada nas árvores. 
Cabanelas é terra de azeitona e azeite. A aldeia está rodeada de olivais e diz quem lá mora que durante a campanha saem dali toneladas de azeitona. “É que são centenas de tractores bem carregados, até dá gosto vê-los passar. Sempre me lembro dos meus tempos de juventude, quando andávamos à azeitona durante várias semanas”, recordou António Isidoro.


Este ano, estão à espera de uma boa safra. Apesar das recomendações da Associação de Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro (AOTAD) apontarem para as vantagens de se fazer a campanha da azeitona cedo, para se conseguir azeite de melhor qualidade. Estas teorias não convencem os agricultores. “Ainda está verde, estes dias de sol vão fazer-lhe bem. Assim como fez a chuva da semana passada”, asseverou o agricultor reformado. 


A campanha da apanha deste ano só deve começar esta semana, assim que abrir a Cooperativa Agrícola de Valpaços, onde a maioria entrega a colheita de azeitona. “Até abrir a cooperativa não temos onde entregar a produção. Só se começa a trabalhar depois de aquela abrir as portas”, explicaram os agricultores locais.

Fonte:Glória Lopes
Jornal Nordeste

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